Usando Design Sprint em Projetos
Como usar essa técnica do Google para modelar ideias e testar protótipos em somente 5 dias
O que é Design Sprint?
Design Sprint é uma ferramenta inventada pela Google Ventures (empresa de investimentos da Google), com objetivo de ajudar as startups que iriam receber capital da empresa a desenvolver melhor seus produtos. Ela pode ser usada em produtos tangíveis ou intangíveis.
O foco é criar um protótipo, em um ciclo curto: levantar desafios do negócio com ajuda de especialistas, escolher um desafio, levantar possíveis soluções, escolher uma ou duas soluções, tangibilizar a solução, testar com usuários, coletar feedbacks com usuários, e concatenar todas as conclusões e recomendações.
Ela consiste em uma descrição de passos cronometrados, com ordem e objetivos bem definidos, para criar um protótipo validado, para resolver um problema específico. As restrições de tempo e formato fazem com que o tempo curto da sprint traga resultados reais, por isso a "receita de bolo" tem que ser seguida à risca.
Design Sprint 2.0
A versão clássica do Design Sprint (veja a seção Referências) dura 5 dias — uma semana completamente dedicada. Alguns encurtaram o começo da Sprint e criaram a versão 2.0, que dura 4 dias.
Qual fase do projeto aplicar uma Design Sprint?
Uma Design Sprint tem muitas aplicações possíveis em projetos, podendo ser utilizada em vários momentos. Eis alguns:
Business Plan
- Quando existem várias proposições próximas para o mesmo negócio
- Quando existem várias opções para empreendimento em um terreno
- Quando existem duas opções de produto muito divergentes, mas com o mesmo público-alvo
Product Discovery
- Quando o mercado para um certo produto é possível, mas desconhecido
- Quando você não sabe o que um usuário gostaria mais, em termos de funcionalidade
- Quando é difícil enxergar o que vai trazer mais valor ao consumidor (existem hipóteses, mas sem feedback)
Planejamento
- Para validar ou definir um MVP
- Quando há muito dúvida entre qual parte do projeto será mais relevante ou trará mais retorno, para priorização
Execução
- Quando há suspeita de que o projeto pode fracassar, fazer uma Design Sprint para avaliar o que foi construído até o momento (e o que falta ser feito) para decidir a continuidade ou desistência do projeto (cutting losses)
- Quando há a percepção que o mercado mudou, e será necessário pivotar o produto, modificando o foco ou trocando funções, pode-se fazer uma Design Sprint para indicar uma nova direção ao desenvolvimento do produto
Preparando o terreno
Para se fazer uma Design Sprint, é necessário ter um espaço dedicado, onde não haja interrupções, e de preferência, as paredes possam ser usadas para colar post-its, e deixá-los durante a toda a semana (porque serão consultados).
Se isso não for possível, tente minimizar as distrações e interrupções e alguém deve ficar responsável por recolher todo o material e colocá-lo em exposição novamente no dia seguinte.
Importante: a Sprint é estruturada para começar às 10h e terminar às 17h, com no máximo uma hora de almoço, para que todos tenham uma hora antes, e uma hora depois, para ler emails e tratar de outros assuntos, pois celulares e acesso aos emails são proibidos durante a Sprint.
É essencial que todos tenham foco total.
Estrutura do time
Quanto mais cabeças, melhor, correto?
Nem sempre.
Na Design Sprint todos têm voz (apesar do Decisor sempre bater o martelo), propõem soluções e votam. Para manter o cronograma, os criadores verificaram que o limite é 9 pessoas fixas durante toda a Sprint. Mas é possível introduzir especialistas em um momento específico, e consultá-los.
Isso é útil também quando pessoas com muito conhecimento de alguma parte do problema ou da solução (marketing, atendimento ao cliente, engenheiros, programadores, cientistas) têm pouco tempo e não teriam agenda para participar da Sprint inteira.
Os papéis "fixos" e obrigatórios são:
Facilitador: controla o tempo, o cronograma e mantém o foco da equipe (tipo um Scrum Master com cronômetro)
Decisor: seria o "Dono da Sprint", ou seja, aquele cujo produto será dele ou de sua responsabilidade. Por exemplo, o cliente, o CEO, o patrocinador do projeto.
Os papéis flexíveis:
Registrador: pode ser qualquer pessoa da equipe, que fica responsável por registrar as discussões, quando a escrita não for individual
Especialistas: é importante ter perfis diversos, mas principalmente alguém de atendimento direto ao consumidor ou que conheça o usuário final muito bem, além de pessoas do marketing, de UX, da engenharia (ou seja, da equipe construção do produto), Designer, etc
Materiais
- Dois quadros brancos
- Canetas de quadro branco
- Post-its de pelo menos 2 cores diferentes
- Folhas de papel sulfite
- Canetas (esferográficas ou tipo Sharpie)
- Fita crepe para prender papel nas paredes
- Adesivos de bolinha (para as votações)
- Um computador com acesso à internet para pesquisas e se necessário para o protótipo (não é para emails!)
Cronograma simplificado
Para fazer uma Design Sprint, recomendo ler o livro, principalmente se você será o Facilitador. Se você for só um participante, ou quiser entender um pouco mais do que acontece, sem ter que ler o livro inteiro, segue um resumo comentado, para a versão de 4 dias. Na versão de 5 dias, o dia 1 é divido em 2 dois dias, bem detalhados.
Primeiro Dia
O dia 1 tem por objetivo definir exatamente de onde se está partindo, identificando as barreiras para o projeto. Assim será possível identificar soluções que as ultrapassem com sucesso.
- Entrevistas com especialistas — tem como objetivo levantar várias hipóteses sobre problemas, desafios, melhorias e desejos do mercado. Cada ideia é escrito no formato “Como podemos…” + ideia. (Exemplo: "Como podemos aumentar o tíquete o médio do nosso site?")
- Objetivo de longo prazo — Quais os objetivos da empresa/organização em 2 anos (Exemplo "Ser a maior empresa de Vendas de Roupas de bebê online do estado")
- Perguntas do Design Sprint — Quais os objetivos do Design Sprint, o seja o que pretende ser resolvido com essa Sprint, escrito no formato “Nós podemos…” + desafio. (Exemplo: "Nós podemos aumentos o tíquete médio mudando a navegação do site para por idade"
- Mapa — Construímos um diagrama da jornada do cliente e onde as ideias estão nessa jornada
- Demonstração Relâmpago — todos buscam referências, empresas, organizações, indivíduos que já resolveram o problema levantado na Sprint
- Rascunhos — nessa fase todos fazem sketches individuais das possíveis soluções, inclusive com a técnica do Crazy 8’s (8 minutos para desenhar 8 ideias em uma folha dividida em 8 partes)
- Construindo o Conceito — cada membro cria uma possível solução para as perguntas da Sprint, e descreve em detalhes
- Conferência — as Perguntas da Sprint foram todas respondidas pelos Conceitos?
Segundo Dia
O dia 2 busca escolher e construir o fluxo detalhado da solução do desafio escolhido no dia 1.
- Criando o Mapa de Calor (dos conceitos) — todos os membros votam nas partes mais interessantes de cada conceito
- Votação Informal e Decisão — o Conceito vencedor é escolhido
- Fluxo de teste do usuário — todos projetam a história que o usuário vai executar para realizar a solução vencedora
- Storyboard — todos desenham passo a passo o que deve acontecer na interação usuário-produto (ele deve estar sem furos e sem margem para outras interpretações — como se alguém de fora pudesse construí-lo)
- Validação do Protótipo— definir como será feita a validação do protótipo, o público-alvo, o formato, as perguntas
Terceiro Dia
O dia 3 é inteiramente dedicado à construção do protótipo mais realista possível nesse prazo.
- Construindo o protótipo — Todos trabalham e não se cria nada novo (nenhuma ideia nova, não planejada, entra no protótipo)
- Amarrando o protótipo — Todos revisam o protótipo, verificando se não ficaram falhas ou buracos no caminho que o usuário vai testar
Quarto Dia
O dia 4 é para deixar os usuários escolhidos interagirem com o protótipo, fazer entrevistas com eles, coletar feedbacks e sumarizá-los
- Entrevistas de Validação com usuários — devem ser perguntas abertas sempre
- Mural de opiniões — Todas os comentários dos usuários são montados com os passos da jornada do usuário
- Análise de feedbacks dos usuários e construção do sumário
- Sumário do Design Sprint — deve conter impressões e recomendações de todos
Referências
Knapp, Jake. Sprint — O Método Usado no Google Para Testar e Aplicar Novas Ideias. Editora Intrínseca, 1ª edição, 2017
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