Usando Design Sprint em Projetos

Luana Lima
6 min readMay 24, 2021

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Como usar essa técnica do Google para modelar ideias e testar protótipos em somente 5 dias

Photo by Gautam Lakum on Unsplash

O que é Design Sprint?

Design Sprint é uma ferramenta inventada pela Google Ventures (empresa de investimentos da Google), com objetivo de ajudar as startups que iriam receber capital da empresa a desenvolver melhor seus produtos. Ela pode ser usada em produtos tangíveis ou intangíveis.

O foco é criar um protótipo, em um ciclo curto: levantar desafios do negócio com ajuda de especialistas, escolher um desafio, levantar possíveis soluções, escolher uma ou duas soluções, tangibilizar a solução, testar com usuários, coletar feedbacks com usuários, e concatenar todas as conclusões e recomendações.

Ela consiste em uma descrição de passos cronometrados, com ordem e objetivos bem definidos, para criar um protótipo validado, para resolver um problema específico. As restrições de tempo e formato fazem com que o tempo curto da sprint traga resultados reais, por isso a "receita de bolo" tem que ser seguida à risca.

Design Sprint 2.0

A versão clássica do Design Sprint (veja a seção Referências) dura 5 dias — uma semana completamente dedicada. Alguns encurtaram o começo da Sprint e criaram a versão 2.0, que dura 4 dias.

Qual fase do projeto aplicar uma Design Sprint?

Uma Design Sprint tem muitas aplicações possíveis em projetos, podendo ser utilizada em vários momentos. Eis alguns:

Business Plan

  • Quando existem várias proposições próximas para o mesmo negócio
  • Quando existem várias opções para empreendimento em um terreno
  • Quando existem duas opções de produto muito divergentes, mas com o mesmo público-alvo

Product Discovery

  • Quando o mercado para um certo produto é possível, mas desconhecido
  • Quando você não sabe o que um usuário gostaria mais, em termos de funcionalidade
  • Quando é difícil enxergar o que vai trazer mais valor ao consumidor (existem hipóteses, mas sem feedback)

Planejamento

  • Para validar ou definir um MVP
  • Quando há muito dúvida entre qual parte do projeto será mais relevante ou trará mais retorno, para priorização

Execução

  • Quando há suspeita de que o projeto pode fracassar, fazer uma Design Sprint para avaliar o que foi construído até o momento (e o que falta ser feito) para decidir a continuidade ou desistência do projeto (cutting losses)
  • Quando há a percepção que o mercado mudou, e será necessário pivotar o produto, modificando o foco ou trocando funções, pode-se fazer uma Design Sprint para indicar uma nova direção ao desenvolvimento do produto

Preparando o terreno

Para se fazer uma Design Sprint, é necessário ter um espaço dedicado, onde não haja interrupções, e de preferência, as paredes possam ser usadas para colar post-its, e deixá-los durante a toda a semana (porque serão consultados).

Se isso não for possível, tente minimizar as distrações e interrupções e alguém deve ficar responsável por recolher todo o material e colocá-lo em exposição novamente no dia seguinte.

Importante: a Sprint é estruturada para começar às 10h e terminar às 17h, com no máximo uma hora de almoço, para que todos tenham uma hora antes, e uma hora depois, para ler emails e tratar de outros assuntos, pois celulares e acesso aos emails são proibidos durante a Sprint.

É essencial que todos tenham foco total.

Estrutura do time

Quanto mais cabeças, melhor, correto?

Nem sempre.

Na Design Sprint todos têm voz (apesar do Decisor sempre bater o martelo), propõem soluções e votam. Para manter o cronograma, os criadores verificaram que o limite é 9 pessoas fixas durante toda a Sprint. Mas é possível introduzir especialistas em um momento específico, e consultá-los.

Isso é útil também quando pessoas com muito conhecimento de alguma parte do problema ou da solução (marketing, atendimento ao cliente, engenheiros, programadores, cientistas) têm pouco tempo e não teriam agenda para participar da Sprint inteira.

Os papéis "fixos" e obrigatórios são:

Facilitador: controla o tempo, o cronograma e mantém o foco da equipe (tipo um Scrum Master com cronômetro)

Decisor: seria o "Dono da Sprint", ou seja, aquele cujo produto será dele ou de sua responsabilidade. Por exemplo, o cliente, o CEO, o patrocinador do projeto.

Os papéis flexíveis:

Registrador: pode ser qualquer pessoa da equipe, que fica responsável por registrar as discussões, quando a escrita não for individual

Especialistas: é importante ter perfis diversos, mas principalmente alguém de atendimento direto ao consumidor ou que conheça o usuário final muito bem, além de pessoas do marketing, de UX, da engenharia (ou seja, da equipe construção do produto), Designer, etc

Materiais

  • Dois quadros brancos
  • Canetas de quadro branco
  • Post-its de pelo menos 2 cores diferentes
  • Folhas de papel sulfite
  • Canetas (esferográficas ou tipo Sharpie)
  • Fita crepe para prender papel nas paredes
  • Adesivos de bolinha (para as votações)
  • Um computador com acesso à internet para pesquisas e se necessário para o protótipo (não é para emails!)

Cronograma simplificado

Para fazer uma Design Sprint, recomendo ler o livro, principalmente se você será o Facilitador. Se você for só um participante, ou quiser entender um pouco mais do que acontece, sem ter que ler o livro inteiro, segue um resumo comentado, para a versão de 4 dias. Na versão de 5 dias, o dia 1 é divido em 2 dois dias, bem detalhados.

Primeiro Dia

O dia 1 tem por objetivo definir exatamente de onde se está partindo, identificando as barreiras para o projeto. Assim será possível identificar soluções que as ultrapassem com sucesso.

  1. Entrevistas com especialistas — tem como objetivo levantar várias hipóteses sobre problemas, desafios, melhorias e desejos do mercado. Cada ideia é escrito no formato “Como podemos…” + ideia. (Exemplo: "Como podemos aumentar o tíquete o médio do nosso site?")
  2. Objetivo de longo prazo — Quais os objetivos da empresa/organização em 2 anos (Exemplo "Ser a maior empresa de Vendas de Roupas de bebê online do estado")
  3. Perguntas do Design Sprint — Quais os objetivos do Design Sprint, o seja o que pretende ser resolvido com essa Sprint, escrito no formato “Nós podemos…” + desafio. (Exemplo: "Nós podemos aumentos o tíquete médio mudando a navegação do site para por idade"
  4. Mapa — Construímos um diagrama da jornada do cliente e onde as ideias estão nessa jornada
  5. Demonstração Relâmpago — todos buscam referências, empresas, organizações, indivíduos que já resolveram o problema levantado na Sprint
  6. Rascunhos — nessa fase todos fazem sketches individuais das possíveis soluções, inclusive com a técnica do Crazy 8’s (8 minutos para desenhar 8 ideias em uma folha dividida em 8 partes)
  7. Construindo o Conceito — cada membro cria uma possível solução para as perguntas da Sprint, e descreve em detalhes
  8. Conferência — as Perguntas da Sprint foram todas respondidas pelos Conceitos?

Segundo Dia

O dia 2 busca escolher e construir o fluxo detalhado da solução do desafio escolhido no dia 1.

  1. Criando o Mapa de Calor (dos conceitos) — todos os membros votam nas partes mais interessantes de cada conceito
  2. Votação Informal e Decisão — o Conceito vencedor é escolhido
  3. Fluxo de teste do usuário — todos projetam a história que o usuário vai executar para realizar a solução vencedora
  4. Storyboard — todos desenham passo a passo o que deve acontecer na interação usuário-produto (ele deve estar sem furos e sem margem para outras interpretações — como se alguém de fora pudesse construí-lo)
  5. Validação do Protótipo— definir como será feita a validação do protótipo, o público-alvo, o formato, as perguntas

Terceiro Dia

O dia 3 é inteiramente dedicado à construção do protótipo mais realista possível nesse prazo.

  1. Construindo o protótipo — Todos trabalham e não se cria nada novo (nenhuma ideia nova, não planejada, entra no protótipo)
  2. Amarrando o protótipo — Todos revisam o protótipo, verificando se não ficaram falhas ou buracos no caminho que o usuário vai testar

Quarto Dia

O dia 4 é para deixar os usuários escolhidos interagirem com o protótipo, fazer entrevistas com eles, coletar feedbacks e sumarizá-los

  1. Entrevistas de Validação com usuários — devem ser perguntas abertas sempre
  2. Mural de opiniões — Todas os comentários dos usuários são montados com os passos da jornada do usuário
  3. Análise de feedbacks dos usuários e construção do sumário
  4. Sumário do Design Sprint — deve conter impressões e recomendações de todos

Referências

Knapp, Jake. Sprint — O Método Usado no Google Para Testar e Aplicar Novas Ideias. Editora Intrínseca, 1ª edição, 2017

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Luana Lima

Adoro ler, escrever e correr. Computação (UFV)/Gestão de Projetos (Dom Cabral)/UX (UFRGS). Mãe da Stella e Clarice e da Akita Yuki linkedin.com/in/luana-lima-pm