As mulheres e os obstáculos à liderança

Luana Lima
6 min readApr 20, 2021

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As barreiras e mitos (próprios!) que as mulheres enfrentam no caminho da liderança

Photo by Quino Al on Unsplash

Mulheres líderes entregam mais, fortalecem a cultura da empresa e criam equipes mais resilientes, com resultados consistentes. Dezenas de pesquisas indicam essa tendência, mas o que vemos no dia-a-dia são poucas mulheres líderes, ocupando espaços achatados, “cotas virtuais”, e quase todo mundo tratando a questão da diversidade como ultrapassada e resolvida.

Daniel Kahneman, no livro “Rápido e Devagar”, fala bastante dos viéses inconscientes. Um deles, a respeito da igualdade entre homens e mulheres, mostra que, quando há 10% de mulheres em cargos de gestão na organização, todos, incluindo as mulheres, acreditam que elas estão adequadamente representadas. Logo, os viéses cognitivos atingem até que se prejudica com eles.

Mesmo quando a proporção de mulheres é equilibrada nos cargos de entrada, na gestão, elas ainda são minoria, o famoso “teto de vidro” (porque não vemos, mas está lá). Mas não raro, executam o trabalho sem receber os méritos ou o salário compatível, aguardando “serem reconhecidas”.

Fonte: The Economist

Com o teto de vidro, a carreira e os ganhos das mulheres estagnam, porque também se tem o mito que mulheres com filhos se comprometem menos com as empresas que homens com filhos, por exemplo. Em cargos de gestão essa é uma constante, e muitas mulheres recebem projetos ou cargos somente quando há crises, o que funciona como uma aposta: se elas resolverem o problema, bom para a empresa; senão, não tem impacto na carreira e no nome de profissionais já estabelecidos da empresa.

Fonte: Payscale

Barreiras às mulheres no caminho da liderança

Pesquisa da executiva Karinna Forlenza levantou vários pontos interessantes sobre as dificuldades de acesso das mulheres aos cargos de liderança.

Principais barreiras:

Visibilidade

Cerca de 95% das mulheres apontam que é difícil aumentar a visibilidade dentro da empresa. É um dos problema mais intricados, quando se trata de carreira: mulheres são (em geral, falando em arquétipos) educadas para serem modestas. Uma mulher confiante, é, até hoje, medida com parâmetros medievais, que a dizem vulgar e exibida.

Isso se traduz na crença de que "o trabalho deve que falar por si só", "não preciso fazer propaganda, porque as pessoas vão notar". Isso isola a mulher que acaba não pleiteando aumentos, promoções e até créditos por seu trabalho. Resultado: a estagnação que vemos nas carreiras femininas, comparadas à homens com a mesma formação, com os mesmos cargos de entrada.

Comunicação

Mulheres caminham em um campo minado quando se trata de comunicação. Adequar o equilíbrio entre ser agressiva/passiva, empática/distante, e evitar cair em todos os clichês.

Elas tem mais dificuldade em falar sobre as capacidades que possuem, seus talentos e objetivos de carreira, e com isso não são notadas, se cansam e desistem de progredir.

Também não comunicam de forma assertiva o que esperam dos outros, como equipe e líder imediato. Isso dificulta a dinâmica do trabalho e a ascensão na carreira.

Política

As mulheres, em geral, fogem do jogo político das empresas. Elas tendem a associá-lo ao jogo sujo, a "puxar o tapete" e com falta de ética com os colegas.

Muitas têm "preguiça" de tratar das relações dos círculos mais afastados, ou meramente de trabalho, como se fosse um tipo de falsidade, ou desnecessário.

Desvalorizar o networking ou tratá-lo como ruim corta conexões que podem ser poderosas na carreira ou simplesmente na conclusão de um trabalho. É imprescindível entender que as relações no ambiente de trabalho, com colegas e clientes deve ser ativamente cativada, e o fato de elas não ultrapassarem as paredes do escritório, não significa que sejam falsas ou meramente interesseiras. Todos fazemos trocas o tempo todo, e ser conhecido pelas pessoas fica fácil conectar os interesses em comum.

Mulheres líderes

Além disso, as mulheres também a ter outros obstáculos internos à liderança. Um dos principais é acreditarem que não estão completamente preparadas para assumir o cargo. Isso é um mito, pois que a experiência e os estudos criam uma base, mas ninguém nunca está 100% preparado para todas as situações que podem surgir na liderança.

Ter bons modelos de líderes colabora para tornar a ideia mais tangível às mulheres, nos mais diversos âmbitos. Na política, por exemplo, dentre todos os líderes mundiais, o destaque no que tange o tratamento à pandemia, vai para duas mulheres: Angela Merkel (Alemanha) e Jacinda Ardern (Nova Zelândia).

Elas mostraram características indispensáveis ao líderes excelentes:

Empatia

A liderança deve ser capaz de conciliar os interesses acima dela (diretoria, empresa, organizações), com as necessidades de seus liderados, entendendo profundamente as motivações e desejos das partes interessadas.

Escuta ativa

A capacidade de realmente ouvir e compreender, ao invés de simplesmente aguardar uma pausa ou “momento para contra-atacar”. A maioria de nós ouve para responder; escutar até o fim, sem interrupções, buscando compreensão, é uma ferramenta poderosa nas negociações e na gestão.

Olhar diverso

Observar as situações de mais de uma perspectiva; ter convivência, repertório de informações de culturas e nichos diferentes do seu “padrão”; buscar diálogo com representantes de visões diferentes, é importante para tornar as soluções robustas, sem ser simplista com problemas complexos.

Inteligência emocional

Resiliência, capacidade de entender as próprias emoções e gatilhos; saber diferenciar, em um situação crítica, quais são as reais dimensões do conflito, separando suas próprias emoções advindas de acionamentos de memórias e experiências anteriores, dominar as reações para que o respeito prevaleça e o foco no solução permaneça, são qualidades incríveis e difíceis de construir, mas diferenciam qualquer pessoa.

Aprendizagem

A busca em aprender deve ser constante. Seja formalmente, seja com sua equipe e cliente. Simples assim. A postura do “já passei por isso”, e “sempre foi feito assim”, usada sem nenhuma contextualização, tende a ser muito danosa no mundo mutante e desafiador que vivemos.

Foco no impacto

Produto não é a mesma coisa que objetivo, impacto. Muitos se concentram tanto em entregar o produto, que não acompanham se o interesse nele continua o mesmo da sua concepção; ou mesmo se uma mudança no ambiente alterou sua relevância. Conseguir entregar é excelente; cumprir metas é mandatório; mas se você perder de vista o impacto, pode tomar decisões baseado no curto prazo, que encurtam benefícios a longo prazo.

Como fugir dos obstáculos

No caminho da liderança é importante desviar ou pular as armadilhas:

  • Pergunte ao seu/sua líder como pode melhorar sua contribuição
  • Deixe claro para seu/sua líder qual o seus objetivos de carreira na empresa
  • Apresente suas ideias e projetos, não delegue
  • Fale abertamente com o time e o/a líder o que espera deles e, em situações de conflito, exponha seu lado e como foi afetada; não deixe para lá
  • Participe de eventos e encontros fora da empresa/expediente, o máximo possível
  • Se tem dúvidas (que deseja esclarecer), ideias que acredita serem benéficas para o cliente e a empresa, não deixe de buscá-las por uma porta fechada
  • Mantenha contato com colegas de outras áreas
  • Não trate as colegas como competidoras: crie uma tribo que se ajuda e colabora entre si

Como promover melhorias

Você é líder que quer colaborar para o desenvolvimento de suas lideradas?

Alguns passos:

  • Promova o mentoring para elas com membros mais antigos da organização
  • Não peça voluntários para tarefas que não impactam diretamente no resultado (office housework); divida-o entre todos igualmente
  • Use momentos de feedback para fazer coaching
  • Promova eventos de interação entre os colegas ou entre empresa e clientes durante o dia: almoços, cafés, brunchs
  • Crie oportunidades para que elas apresentem projetos e ideias para todo o time/departamento
  • Contrate e promova por avaliação cega (pelo menos) ou com ações afirmativas (se possível)
  • Crie uma ambiente de segurança, cortando pela raiz as piadinhas sexistas, mesmo de clientes
  • Faça ou apoie mudanças de políticas, como licença maternidade / paternidade / amamentação adequadas e flexíveis
  • Provenha ou apoie horário flexível, dando diretivas claras do que é esperado
  • Não espere todos os emails/mensagens/WhatsApp serem respondidos imediatamente, quando fora do horário de trabalho e aos fins de semana

O caminho para a liderança é atribulado, mas temos que enfrentar primeiro os mitos que nós mesmas criamos e que nos afastam de uma carreira de sucesso.

E para aquelas que já conseguiram alçar vôos, aproveitem para “enviar o elevador de volta”, compartilhando conhecimento, experiência e oportunidades, para cooperar com o êxito de outras mulheres.

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Luana Lima

Adoro ler, escrever e correr. Computação (UFV)/Gestão de Projetos (Dom Cabral)/UX (UFRGS). Mãe da Stella e Clarice e da Akita Yuki linkedin.com/in/luana-lima-pm